VAMOS FALAR DE POLÍTICA? O QUE MEU VOTO TEM A VER COM A MORTE DO MENINO HENRY BOREL?

Postado: 12/04/2021

 Vereador do Rio Dr.Jairinho e esposa são presos acusados por morte do menino Henry.
 
 O que o meu voto tem haver com a morte do menino Henry e que relação este crime tem com o projeto de sociedade que queremos para Bangu e toda Zona Oeste? 
 
Jairinho é um produto coletivo e compreender sua caracterização é central para apontar qual projeto de sociedade queremos para Bangu e toda Zona Oeste
 
O vereador Jairinho figura hoje as páginas policiais em meio às acusações relacionadas à morte do menino Henry. É lamentável que tenhamos uma situação como essa em relação, sobretudo, à brutalidade a qual está indicada a morte do pequeno.
 
Jairinho não se forjou político sozinho. Diversos braços o levaram a ocupar o cargo de vereador, tendo o mesmo usado o estofo político criado pelo seu pai, Cel. Jairo. Este, por sua vez, foi eleito pela primeira vez como deputado estadual pelo Partido Social Cristão (PSC), em 2002, quando este partido fizera composição para eleger em coligação Rosinha Garotinho enquanto governadora do estado do Rio de Janeiro. Importante apontar que, ao sair como quadro do PSC, vinculado ao governo Garotinho que emplacava sua candidata e esposa, o segmento evangélico que se organizava na política fluminense consolidava sua aproximação explícita com figuras que emergiam das forças de segurança pública, as quais, por sua vez, flertavam com a expansão da milicianização da vida pública do Rio de Janeiro. 
 
Raras exceções sucumbiram a este processo, sendo importante dizer que até mesmo partidos como PDT, PT, PSB, PCdoB, PCB se alinharam a Garotinho e seus rebentos para garantir a governabilidade fluminense nas eleições de 1998. A força em torno a Garotinho foi tamanha que, desde a redemocratização, foi a primeira vez que um governador viria do interior e seria eleito por 88 municípios com exceção da capital e mais 2 outros municípios.
 
As eleições de 2006 foram uma importante virada para o cenário de organização da esquerda do Rio de Janeiro por 2 fenômenos: um, se deve ao lançamento da campanha de Milton Temer pelo então recém fundado PSOL, que contou com o apoio do PSTU e do PCB, este último, realiza sua autocrítica e abandona o conglomerado em torno de Garotinho; o segundo, relacionado a este, se deve à sucessão de sua esposa: Sérgio Cabral. 
 
Agora, vinculados ao PMDB, estes caciques da política fluminense contam com o apoio incondicional de Coronel Jairo, reeleito deputado estadual pelo também PSC, que por sua vez apoiou Cabral ao governo fluminense em 2006. O PMDB, à época, apoia informalmente a candidatura de Lula, para ser reeleito presidente numa aproximação formal que se desdobrará mais adiante. A novidade era que, antes mesmo, nas eleições municipais de 2004, Coronel Jairo emplacou seu filho, Dr. Jairinho (à época, apenas estudante de medicina), como vereador pela capital fluminense com 24 mil votos. Com o mesmo número, o mesmo jingle (O NOME DELE TODO MUNDO JÁ CONHECE – paródia de Bom Xi Bom, do Grupo As Meninas), ambos orquestravam o poder político no bairro onde cresci, Bangu. Na verdade, no lado da Guilherme da Silveira e do Conjunto Habitacional D. Jaime Câmara, posto que Bangu é tão grande que é arrebanhado por outros caciques políticos a depender do recorte do bairro... E são muitos, tá? 
 
Entre trocas de favores, pinturas de fachadas de prédios do conjuntão, “ajudas” em período de eleições, o Coronel Jairo, era também famoso pela sua relação com o Ceres Futebol Clube. Curiosamente, durante as eleições, era comum que faixadas e muros fossem “decorados” SOMENTE com placas e galhardetes ora de Coronel, ora do Dr. Jairinho. Cresci vendo meu pai impedir que isso ocorresse no portão dele. No peito e na raça. Isso, nunca faltou na criação que tive. Em 2010, não teve jeito... Coronel Jairo foi eleito mais uma vez pelo PSC que, com mais 15 partidos, a saber PMDB, PP, PDT, PT, PTB, PSL, PTN, PSDC, PRTB, PHS, PMN, PTC, PSB, PRP e PCdoB, emplacaram o segundo governo de Sérgio Cabral (PMDB). Uma grande festa que vocês sabem como terminou, né? Preciso nem dizer quem era a candidata à eleição para presidente que saiu em campanha em Bangu, precisa? Com o vice do PMDB? Acho que não, né... Importante dizer que, em 2008, Jairinho foi reeleito vereador carioca com também cerca de 24 mil votos.
 
Em 2012, Jairinho foi o 4º candidato a vereador mais votado, ainda pelo PSC. Contou com a máquina que elegeu Eduardo Paes (PMDB), que selou parceria e “paz” para Bangu e região. Nas eleições de 2014, com novo velho partido aliado, PMDB, Coronel Jairo se alinha ainda mais ao grupo de Cabral que emplaca com PMDB, PP, PSD, PSDB, DEM, PTB, SD, PSC, PPS, PEN, PHS, PMN, PRP, PSDC, PSL, PTC, PTN, PRTB, PPL, Pezão como governador. Em meio a todos os processos denunciados pela esquerda, sobretudo encabeçada pelo PSOL que passa a ganhar mais destaque pela coerência diante ao cenário da política fluminense, ainda assim, em 2016, Jairinho é novamente eleito vereador, agora, pelo PMDB, como seu pai. O mesmo PMDB que passou a incorporar o que há de pior na política fluminense... O mesmo que se articulou em Brasília... O mesmo com quem se quis crer que era possível se aliar para forjar um país novo... Avisos nunca faltaram!
 
Não vou me deter às eleições de 2018, porque foi um esculacho a parte. Embora, seja importante dizer que a milicianização, sobretudo, na Zona Oeste, ganhou tons ainda mais definidos a partir desse momento que Witzel já estava no Palácio Guanabara, né? Coronel Jairo não foi reeleito, mas seu poder e influência se manifestaram nas eleições municipais de 2020. Houve a reeleição de seu filho, já com novo partido, o Solidarieade. 
Nesse momento, vocês podem está a se perguntar onde eu quero chegar com essa narrativa de descrever os lugares ocupados por pai e filho? Principalmente, se levarmos em consideração operações e investigações que já apontavam para as ilicitudes diante aos cargos que Coronel Jairo teve. Furna da Onça manda lembrança. 
 
Mas, mais que certezas, eu quero deixar a seguinte pergunta: quem deixou Jairinho chegar onde chegou, a ponto de ter domínio o suficiente para ser investigado sobre a morte do pequeno Henry? 
 
Culpabilizar a população de Bangu e região, bem como apontar para sua relação para com segmentos religiosos que, ao sabor do momento, era de interesse, não deveriam minorar o fato de quem com ele congregou no passado. O giro conservador não foi de uma hora para outra. E isso não pode ser esquecido. Construir política demanda muito mais do que boas articulações. É preciso coerência e projetos. Até onde os braços que deixaram ele chegar onde chegou não poderiam ter cessado sua capacidade de ser articular politicamente e, consequentemente, ser acusado de ter dominado a vida econômica e afetiva de uma mulher que está sendo arrolada como conivente ao processo de tortura de seu próprio filho?
 
Fico com a consciência de meu pai e de minha mãe. Nunca se abaixaram diante à extensão do poder de Coronel Jairo e Jairinho, com as mãos limpas, cabeça erguida, e muitos votos conscientes ao PSOL. Aprendeu com eles quem quis... A questão é: quem tinha poder de ter parado isso, não parou por quê?
 
*Análise feita por Dan Gabriel D'Onofre, Professor do Departamento de Economia Doméstica e Hotelaria da UFRRJ, militante da LRS/ASI PSOL Rio, atuante no Núcleo Ruralino do Coletivo Docente de Luta e Pela Base.
 
Direção Colegiada do SINTUR-RJ

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